Courrier Blogosférico
Dir-se-ia que se trata de uma revista cor de rosa, daquelas bem reles, onde os happy few são fotografados de calças na mão ou daquelas colunas de costumes, particularmente sórdidas a falarem de boatos. Não, trata-se da agenda política do PSD para esta semana. O ataque machista a Fernanda Câncio, que aos olhos do PSD, deixa de ser vista como jornalista para passar a ser apresentada por via das suas pretensas relações pessoais. Ora, esta desqualificação é de todo inaceitável. Usando o provérbio mais machista da política portuguesa, "a mulher de César", Rui Gomes da Silva demonstrou do que se trata a alternativa PSD. Estamos no domínio do ataque pessoal, em tudo semelhantes aos colos de Santana, que tanto enojaram naquela demonstração de homofobia gratuita. Aqui trata-se de condenar uma contratação de uma jornalista por uma produtora, que foi posteriormente contratada pela RTP. E de assumir o rumor e a boataria como critérios para emitir posições partidárias.
(...)
5 comentários:
Eu achei essa intervenção uma, permitam-me, filha-da-putice e uma cretinice. Agora, machista não me ocorreria... Mas ver machismo em tudo é uma paranóia como qualquer outra. É como os benfiquistas: vêm sempre os árbitros a roubá-los e a beneficair o Fc Porto.
rps, eh claramente machista pq se trata de julgar o merito de uma mulher em funcao de uma pretensa relacao com um homem poderoso. Como se a Fernanda nao bastasse, como se fosse preciso uma ajudinha, como se a identidade da mulher-jornalista nao importasse um centavo face a identidade da mulher-(alegadamente)amante. Claro como agua, e nem foi preciso puxar a brasa a sardinha, convenhamos.
Também me parece uma questão de machismo, mas não me cheira que seja apenas isso. No entanto, esta situação é sem dúvida de lamentar.
Cara Cris:
Estou certo de que os senhores da direcção do PSD estão-se nas tintas para o mérito ou demérito da senhora Cancio. Estão é desesperados com as sondagens e com outros sinais.
É como o patrão que despede a operária fabril pelo facto de esta se encontrar grávida. Não é machismo - é, permita-me, uma filha-da-putice, "apenas".
Esse mesmo patrão também é capaz de despedir um operário homem pelo facto de ele interropmper muitas vezes o trabalho para ir fumar. Diz logo que é um malandro que não quer trabalhar.
caro rps,
Pois, sucede que desconheco "filha-da-putice" que seja "apenas" (e ja nem sequer vou entrar pelas muitas implicacoes de expressoes como esta - em que as mulheres ou os corpos femininos sao usados na linguagem para insultar outrem - pq isso daria uma longa dissertacao).
Todos os actos injustos tendem a estar ligados a sistemas mais sofisticados de discriminacao e exclusao. Por isso eh que ha direitos e violacao dos mesmos; por isso eh que ha violencia fisica e simbolica; por isso eh que existe poder e resistencia, privilegio e opressao, etc. Nao perceber isto eh falhar em reconhecer que determinados grupos/identidades sofrem historicamente mais abusos do que outras/os e isso nao faz mais do que procurar tornar invisivel as situacoes repetidas de discriminacao. A discriminacao - sexista, racista, homofobica, etc - existe, quer a vejamos, quer fechemos os olhos perante ela. Basta falar com quem eh alvo, em vez de confiar na avaliacao de quem se sente confortavel com a situacao actual.
E, desculpe a franqueza, mas uma mulher gravida despedida nao tem rigorosamente nada a ver com um homem despedido pq se ausenta para fumar. Nao existe intelegibilidade reciproca entre estes dois exemplos, por muito generosa que seja a sua interpretacao.
Ja agora, ajudava perceber o que eh que para si consiste em discriminacao das mulheres num contexto como o portugues. Conhece exemplos? Ou acredita que isto nao passa de uma fantasia?
Enviar um comentário