Armas de arremesso: feminismo e as eleições (para já) americanas
Dizer que as feministas são contra Palin e o que ela representa - até ver, para a M.ª José, já que liberdade não seria palavra que eu escolheria para caracterizar as suas orientações políticas - é, infelizmente, um argumento que em Portugal pode colar. Movimento descredibilizado e não raramente ridicularizado, o feminismo é coisa com que a maioria não se quer identificar, logo, acaba por não se identificar, igualmente, com as suas escolhas ou orientações (ou, mais propriamente, com as orientações que lhes são atribuídas). Mas tem mesmo de ir por aí? É que me parece um bocadinho precoce iniciar já a sua própria campanha...
E tem toda a razão na parte da fúria de se pensar que esta Palin pode chegar à casa branca. De facto, o pânico é imenso. Até porque há, como bem subentende, uma inveja camuflada. Estamos a vê-la a chegar à casa branca e corremos a rastejá-la. É sabido que as mulheres não suportam ver outra mulher ascender a lugares de destaque. É mesmo isso: a velha máxima das "mulheres contra mulheres". Acertou em cheio. E as feministas são, realmente, as piores. Mas não são as únicas. Ouvi mesmo uma republicana dizer, na tv, que não tinha a certeza de votar McCain porque, como vice-presidente, Palin não iria ter tempo para se dedicar à família e, com um bebé tão pequeno e toda uma família para quem ser "dona-de-casa", não iria ser correcto por parte dela. Afinal, ela estaria a trocar a família pela carreira e a negar a sua função primeira de fada do lar e mãe estremosa. Como vê, mesmo pelas razões mais absurdas se pode ser anti-Palin - e eu não chamaria à republicana feminista.
A questão é que, ao contrário do que quer fazer parecer, não interessa a ameaça de Palin ao "exclusivo esquerdista" ou a sua família, tal como não interessa o seu sexo. Interessam, sim, as suas políticas. E essas é que não interessam a ninguém.