Mostrar mensagens com a etiqueta Mulheres contra Mulheres. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Mulheres contra Mulheres. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, setembro 11

Armas de arremesso: feminismo e as eleições (para já) americanas

Maria José Nogueira Pinto, DN

O problema, cara M.ª José, não é o facto de se considerar que uma Palin assim não possa existir, mas Palin existir mesmo. É que esta Palin não só é contra as mulheres decidirem sobre os seus corpos e sobre a sua (não) reprodução, como defende o uso e a disponibilização de armas - e nem sequer se refere exclusivamente às destinadas à (sua adorada) caça de animais.
Dizer que as feministas são contra Palin e o que ela representa - até ver, para a M.ª José, já que liberdade não seria palavra que eu escolheria para caracterizar as suas orientações políticas - é, infelizmente, um argumento que em Portugal pode colar. Movimento descredibilizado e não raramente ridicularizado, o feminismo é coisa com que a maioria não se quer identificar, logo, acaba por não se identificar, igualmente, com as suas escolhas ou orientações (ou, mais propriamente, com as orientações que lhes são atribuídas). Mas tem mesmo de ir por aí? É que me parece um bocadinho precoce iniciar já a sua própria campanha...
E tem toda a razão na parte da fúria de se pensar que esta Palin pode chegar à casa branca. De facto, o pânico é imenso. Até porque há, como bem subentende, uma inveja camuflada. Estamos a vê-la a chegar à casa branca e corremos a rastejá-la. É sabido que as mulheres não suportam ver outra mulher ascender a lugares de destaque. É mesmo isso: a velha máxima das "mulheres contra mulheres". Acertou em cheio. E as feministas são, realmente, as piores. Mas não são as únicas. Ouvi mesmo uma republicana dizer, na tv, que não tinha a certeza de votar McCain porque, como vice-presidente, Palin não iria ter tempo para se dedicar à família e, com um bebé tão pequeno e toda uma família para quem ser "dona-de-casa", não iria ser correcto por parte dela. Afinal, ela estaria a trocar a família pela carreira e a negar a sua função primeira de fada do lar e mãe estremosa. Como vê, mesmo pelas razões mais absurdas se pode ser anti-Palin - e eu não chamaria à republicana feminista.
A questão é que, ao contrário do que quer fazer parecer, não interessa a ameaça de Palin ao "exclusivo esquerdista" ou a sua família, tal como não interessa o seu sexo. Interessam, sim, as suas políticas. E essas é que não interessam a ninguém.

quarta-feira, maio 21

a tongue of (no) one's own

Every owner of slaves shall, wherever possible, ensure that his slaves belong to as many ethnolinguistic groups as possible. If they cannot speech to each other, they cannot then foment rebellion and revolution.

...

but I have
a dumb tongue
tongue dumb
father tongue
and English is
my mother tongue
is
my father tongue
is a foreign lan lan lang
language
l/ anguish
anguish

...

Nourbese

segunda-feira, junho 4

O Mito da beleza

(…) as feministas eram criticadas como mulheres defeituosas, homens pela metade, masculinizadas… revistas humorísticas e legisladores hostis à causa, por toda a parte divulgavam uma imagem alarmante de espantosas megeras masculinizadas (…).

(…) Embora muitas mulheres percebessem que sua atenção estava sendo focalizada dessa forma [nas suas características físicas e não reivindicações], poucas compreenderam totalmente como esse enfoque é meticulosamente político. Quando se atrai a atenção para as características físicas de líderes de mulheres, essas líderes podem ser repudiadas por serem bonitas demais ou feias demais. O resultado líquido é impedir que as mulheres se identifiquem com as questões. Se a mulher púbica for estigmatizada como sendo “bonita”, ela será uma ameaça, uma rival, ou simplesmente uma pessoa não muito séria. Se for criticada por ser “feia”, qualquer mulher se arrisca a ser descrita com o mesmo adjectivo se se identificar com as idéias dela. As implicações políticas do fato de que nenhuma mulher ou grupo de mulheres, sejam elas donas-de-casa, prostitutas, astronautas, políticas ou feministas, podem sobreviver ilesos ao escrutínio devastador do mito da beleza, ainda não foram avaliadas por inteiro. Portanto, a tática de dividir para conquistar foi eficaz.

(…) O mito não isola as mulheres segundo suas gerações, mas, pelo facto de incentivar a desconfiança entre todas as mulheres com base na aparência, ele as isola de todas as outras mulheres que elas não conheçam e apreciem pessoalmente. Embora elas tenham grupos de amigas íntimas, o mito e as condições das mulheres até recentemente impediram-nas de aprender algo que possibilita as mudanças sociais masculinas: como se identificar com outras mulheres desconhecidas de uma forma que não seja pessoal.

O mito gostaria que as mulheres acreditassem que a mulher desconhecida (…) está sob suspeita antes de abrir a boca por ser Uma Outra, e a lógica da beleza insiste que as mulheres considerem umas às outras como possíveis adversárias até descobrirem que são amigas.

Naomi Wolf
in “O Mito da Beleza”
Editora Rocco

segunda-feira, fevereiro 12

Mulheres contra Mulheres (2)


Sem REIno
Saibamos não temer a luminosidade das rainhas singulares
para deixarmos, enfim, a sombra do REInado.




Analisadas possíveis causas e avançadas algumas formas de contornar este "reino de divididas", é chegada a altura de aproximarmos a lupa e tentarmos decifrar acções concretas e simples que nos proporcionarão uma convivência mais saudável e solidária.

E onde quer que a lupa nos prenda o olhar, solidariedade é a palavra focada, iluminando o percurso que permite abandonarmos a sombra do REInado.

Mas como traduzir, na prática, esta ambicionada solidariedade?
Eis algumas propostas:

1. Ter presente que os homens não são, por definição, mais importantes que nós. O que nos permitirá apoiarmo-nos orgulhosamente umas nas outras. (Shere Hite)

2. Sermos cúmplices e capazes de reconhecer autoridade na (outra) mulher. (Elena Simón)

3. Sabermos reconhecer o valor de uma mulher e renunciar ao "sim, mas…" que normalmente acompanha o "elogio", camuflando a inveja, o ciúme, a rivalidade.
Exemplo do "sim, mas…":
- Aquela mulher é muito bonita
- Sim, mas também tem dinheiro para se cuidar…


4. Adoptar uma atitude solidária acima das antipatias, podendo resultar num pacto de silêncio. Algo como: "Eu, pessoa do sexo feminino, estou disposta a não criticar nenhuma acção ou decisão tomada por outra pessoa do mesmo sexo, a não ser que extravase certos limites que um ser humano não deve ultrapassar". (Amélia Valcárcel)


5. Não ocultar a rivalidade e a competição - já que tal contribuiria para exacerbar as tensões e a agressão entre as mulheres. (Marcela Lagarde). Sermos, antes, francas mas numa óptica construtiva: "Dir-lhe-ei clara e serenamente o que na sua conduta me perturba. Mas só se essa conduta for mais prejudicial para ela do que para mim".

6. "A história do patriarcado é uma história de exclusões, a história da ocultação das mulheres." Há, pois, que renunciar ao papel de órfãs, conhecendo, revelando, nomeando e orgulhando-nos das mulheres da História. (Gioconda Belli). "Diminuímos a misoginia de cada vez que reconhecemos os contributos das mulheres" (Carmen Alborch)


7. Conhecermo-nos, valorizarmo-nos individualmente, abandonando os mecanismos de constante auto-avaliação. O desenvolvimento colectivo só é possível a partir do desenvolvimento individual. (Victoria Camps)

8. Reconhecer que ser solidária não é ser dependente; não é entregarmo-nos incondicionalmente e subordinarmo-nos aos interesses alheios. Será, antes, sublinhar o princípio: "Tenho algo para dar e posso receber algo" (Marcela Lagarde)

9. Aprender a discordar sem misoginia. Reconhecer, em igualdade, que somos diferentes.


10. 11. 12. 13... Existirão, seguramente, muitas outras propostas (alguém tem ideias?). Mas, ainda assim, nenhuma delas poderá prometer a solidariedade. Este é um destino complexo, em que não cabem princípios universais.

Independentemente de não encontrarmos "receitas" para a solidariedade, esse ambicionado destino só poderá alcançar-se com passadas firmes. E a firmeza dos passos, essa sim, poderá ser generalizável a propostas como estas.

Caminhemos, pois!

segunda-feira, dezembro 11

Mulheres contra mulheres? *

Eles preferem trabalhar com elas porque elas não levantam ondas.
Elas não gostam de trabalhar com elas para não terem sombra.
Eles preferem conviver com eles porque são da malta.
Elas não podem passar sem outras elas; de quem falar mal?

As relações entre eles estabelecem-se naturalmente.
Entre elas as relações são mais difíceis, sendo, frequentemente, caracterizadas como triviais, pouco sinceras, competitivas e com doses de malvadez.

Quais os culpados de tão celebrado estereótipo?

Dividir para Reinar
No que ao papel do homem diz respeito, digamos apenas que este seguiu com afinco – e êxito - a máxima “dividir para reinar”. É que para manter o poder, a ordem masculina precisava impedir que as mulheres se reunissem e formassem alianças; já que quando as relações femininas não são sólidas, as mulheres ficam mais expostas à exploração do homem.

E dividir não foi difícil: bastou encerrá-las na esfera doméstica. Mergulhadas nos círculos repetitivos do quotidiano, as suas conversas giravam em torno dos filhos, da casa, do marido… não tendo como se desenvolver socialmente.

Uma outra chave para manter as mulheres divididas foi levá-las a interiorizar que quando uma mulher conquistava um lugar no mundo (que vinha do reconhecimento e aceitação por parte do homem), outra era excluída. E se só havia espaço para uma…. já se sabe “contra” quem tinham de lutar. Para além disso - há estudos que o indicam – os oprimidos são especialistas em hostilidades para com pessoas vulneráveis como elas. Revoltadas mas impotentes face aos opressores, voltam-se para os seus semelhantes oprimidos. Como se fosse a única catarse possível.

Mas não nos detenhamos no papel do homem.

Reino de Divididas
Se aquilo que até agora foi dito se mantém nos dias de hoje não será somente responsável o homem. O patriarcado** não teria podido manter-se ao longo de milhares de anos sem a cumplicidade das próprias mulheres. É, por isso, importante tomarmos consciência do papel que desempenhamos na manutenção da dominação masculina.

A verdade é que persistimos no erro de considerar que o valor de uma mulher implica a desvalorização de outra mulher. Quando sentimos que uma mulher é aceite e valorizada por um homem, tendemos a enumerar-lhe uma série de defeitos.

Quantas de nós se sentiram ameaçadas quando percebíamos que o grupo de amigos se começava a alargar a outras mulheres? Daí as críticas mordazes às novas figuras femininas que começam a frequentar o NOSSO café.

Quantas de nós caímos na tentação de dizer, perante uma mulher bonita, que era fútil porque cuidava da aparência? Ou que é bonita somente por fora?

Unir para Reinar
Por isso, a verdadeira alavanca da mudança somos nós mesmas, mesmo por quem diz não sentir a descriminação (eu também o dizia há bem pouco tempo), porque basta pensar como seria ser homem por um dia para descobrir as diferenças.

E isto é igualmente válido para as feministas, já que acabam por ser também misóginas (hostilidade face à mulher) para com as que cedem à dominação masculina…

Não reforcemos a inferioridade, que nos atribuíram, com as nossas inseguranças. Deixemos as comparações, as depreciações, a criação de incertezas nas outras mulheres, as avaliações constantes;
Não tenhamos medo de dizer o quanto aquela mulher é inteligente, honesta, divertida, bonita, leal… Saibamos admirar uma mulher!
Saibamos ser essa mulher.

Sem REIno
Saibamos não temer a luminosidade das rainhas singulares para deixarmos, enfim, a sombra do REInado.
Saibamos ser a singular que abdica do choque com outras singulares em proveito de um plural.

Saberemos?


* Título surripiado ao livro de Carmen Alborch
** Patriarcado: forma de organização política, religiosa, económica e social baseada na autoridade e liderança homem; sistema em que predomina o domínio do homem sobre a mulher