Quem tem medo da Branca de Neve?
A violência doméstica (que assume diversas formas – psicológica, física, económica) aparece justificada na cultura, nas tradições e na socialização. Tudo encoraja (a família, os grupos de pares, as instituições, a literatura, contos de fadas, a religião, os media, as canções e por aí adiante) as mulheres a terem esperança e a acreditar que elas podem mudar os seus parceiros e que devem ser perseverantes para ver os resultados. Comprometimento com a relação constitui, nas representações sociais, um atributo positivo de feminilidade.
Num estudo realizado por La Violette e Barney, foi perguntado às mulheres com qual das personagens d’ “A Branca de Neve” mais se identificavam. Quase todas as mulheres escolheram a Branca de Neve. Por razões óbvias, é raro as mulheres escolherem a Rainha Má/ bruxa como seu modelo.
É interessante seguir as autoras e reflectirmos sobre o que é que se sabe da Branca de Neve. Era muito bonita, bastante passiva, extremamente doce, demasiado indulgente (com os Sete Anões), incrivelmente alimentadora [nurturant], excessivamente desamparada e cantava de forma medíocre. Os modelos de papéis das mulheres (mesmo no século XXI) não sqaem muito das personagens dos contos de fadas. A Branca de Neve, por exemplo, estava preparada para encontrar o Príncipe Encantado, ser acarinhada e salva por ele. Ela não estava preparada para encontrar Atila, o Huno, nem para tomar decisões, ser assertiva e heróica. E a bruxa má? Era bonita, agressiva, diabólica, manipuladora, calculista, forte, interesseira, egoísta e vaidosa. Ela “tratava” de si própria e de qualquer pessoa que se atravessasse no seu caminho. (…) e estava preparada não apenas para encontrar mas também para combater Atila, o Huno.
(…) “Quando uma mulher se envolve com um indivíduo que ela inicialmente percebe como um bonito prínicipe encantado e que, mais tarde, adquire características de Huno, muitas vezes ela não está preparada para lidar com esta situação (…). Os traços de personalidade com que ela cresceu a acreditar como valiosos (…), como a empatia, compaixão, gentileza, capacidade de persão, aqui não a protegem. De facto, podem até fragilizá-la.”
Quando uma mulher vítima de violência resolve denunciar as agressões de que é vítima (…) todos podem estar a dizer-lhe (…) que ela precisa agora canalizar a sua raiva (ou depressão) para a acção. (…) Muitas (…) sentem que se lhes está a pedir que deixem de ser a Branca de Neve e se transformem na Bruxa Má. Pede-se-lhes que passem a ser uma pessoa de quem elas nunca gostaram. Pede-se-lhes que neguem e mudem a sua socialização – e que façam isso rapidamente.
Helena Pinto, Elisabete Brasil, Maria José Magalhães, Laura Fonseca Fernandes
Excertos da comunicação "ONG´s de mulheres e a luta contra a violência contra as mulheres e crianças no seio da família– o contributo da UMAR) no Colóquio Internacional “Família, Género e Sexualidades nas Sociedades Contemporâneas”
1 comentário:
È...e eu já fui ma das vitimas dessa violência doméstica PSICOLÓGICA!
:(
FUI!
:)
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