Este assunto já cheira a mofo – para não nomear outros odores bem piores – mas o cusquices não pode deixar de o comentar. Fala-se do
anúncio (seja na TV, seja nos outdoors) da TvCabo. O famoso trim, trim.
Há seres que não compreendem porque nos sentimos tão irritadas com as meninas (que até são sossegadinhas e com poucas carnes à mostra) do tal anúncio. Mais, ainda querem comparar com o facto de não nos incomodarmos de ver a
Vanessa Fernandes “entrar-nos pela casa adentro” quase nua.
A estupidez da pergunta e da comparação são bem visíveis. Tão gritantes que não mereceriam uma resposta. Mas o meu lado pedagógico (isto soou pedante?) diz-me para lhes dar uma chance. Ei-la, portanto.

Não é o facto de as raparigas serem bonitas e a Vanessa Fernandes ficar a dever um bocadinho nesse campo que nos irrita. Lamento desiludir, mas não é ciúme (daquele barrigudo de meia idade) nem inveja (da beleza ou juventude das meninas – até é um bocado pedófilo, o anúncio). Simplesmente, as raparigas aparecem submissas; submetidas aos encantos de um “parolo” qualquer. Aparecem como enfeite do anúncio. Estão lá para “embelezar” o dito. E nós não gostamos que as mulheres sejam representadas dessa forma. Estamos fartas de ser o “belo sexo”. O artigo decorativo. A serva das vontades e desejos masculinos.
Para além disso, a escolha de uma publicidade desse tipo (a apelar à libido masculina) deixa de fora, mais uma vez, as mulheres (hetero?) como consumidoras. Acham mesmo que o anúncio se destina a mulheres?

Quanto à Vanessa Fernandes, há motivos de orgulho. Há todo um trabalho meritório à volta do seu fato minimalista (já imaginaram o que seria ter de correr, pedalar com um fato de treino normal? – nem acredito que tenho mesmo de dizer isto).
Mas pior que o trim, trim da TV, é o mesmo anúncio em cartazes espalhados pelas cidades. Estão as três deitadinhas, com olhar lascivo e cobertas por um lençol vermelho, onde se pode ler “Chamadas Ilimitadas”. Quer-me parecer que o que as três belezas (contra quem nada tenho, a não ser como “anunciantes”, até porque não conheço) estão a oferecer são outros serviços ilimitados… E lá estamos nós outra vez com a “mulher-objecto”, “mulher-mostruário”, “mulher-disponível-para-as-vontades-do-seu-amo”. Haja paciência!
Tenho pena que o sexo continue a ser a estratégia que grande parte dos/das publicitários/as use. Estratégia primitiva. Mas parece que parte do público-alvo também o é. Por isso, e se porque há estupidez suficiente para se colocar uma pergunta deste tipo, não é de estranhar que esse tenha de ser o recurso.
E por favor, pior de que ouvir um homem a perguntar “porquê a irritação?” é ouvir mulheres responderem que é ciúme. Se assim o é, que falem por si. Outro estereótipo que não me faz falta nenhuma é o da mulher-contra-mulher e da tonta insegura que daria tudo por um corpo que não fosse o seu.
E agora desculpem lá, mas o telefone está a tocar e tenho três bonzões à minha disposição!