Mostrar mensagens com a etiqueta Machismo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Machismo. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, julho 2

Dicionário: aquele livrinho que tem as palavras por ordem alfabética e o respectivo significado

Que as pessoas que vivem engalfinhadas no seu passado e com os pés como única parte do corpo assente no presente cedam a facilitismos de definições baratas, até compreendo. Agora, que pessoas que têm acesso a informação, que aparentam ser mentalmente arejadas e críticas face ao que as rodeia caiam na esparrela de pegar em definições decoradas e as usar como suas, isso já me faz alguma comichão. Concedo que, de início, achava alguma piada quando me diziam que feminismo era o feminino de machismo. Não podia deixar de rir perante tamanho disparate. Mas depois de ouvir isso repetidas vezes, o único riso que me sai é o de nervosismo. E ainda para mais, os discursos são do género “eu cá não sou nem pelo machismo nem pelo feminismo. Sou contra qualquer tipo de coisa que superiorize um sexo ao outro”. Por favor! Bastava pegar num dicionário – daqueles mais simplezinhos – para ver que feminismo é isso mesmo. Santa inocência!

Que se perdoe o desabafo... É que, para mim, pior que a nossa própria ignorância (não sabemos, coitado/as) é dizer a ignorância dos outros como se fosse a mais sábia das coisas. É que bastava consultar o dicionário...

terça-feira, junho 19

I object/ Eu objecto!

Este é um excerto de um texto escrito por Sandra Bartky seguido da minha leitura e reescrita alternativa do mesmo.

It is a fine spring day, and with an utter lack of self-consciousness, I am bouncing down the street. Suddenly I hear men's voices. Catcalls and whistles fill the air. These noises are clearly sexual in intent and they are meant for me; they come from across the street. I freeze. My face flushes and my motions become stiff and self-conscious. The body which only a moment before I inhabited with such ease now floods my consciousness. I have been made into an object. While it is true that for these men I am nothing but, let us say, a "nice piece of ass", there is more involved in this encounter than their mere fragmented perception of me. They could, after all, have enjoyed me in silence. Blissfully unaware, breasts bouncing, eyes on the birds in the trees, I could have passed by without having been turned to stone. But I must be made to know that I am a "nice piece of ass": I must be made to see myself as they see me. There is an element of compulsion in this encounter, in this being-made-to-be-aware of one's own flesh; like being made to apologize, it is humiliating.
- S. Bartky (1990), "On Psychological Oppression"

A minha versão:

so, i turn around, and smiling sweetly, start stripping for them. my movements are clumsy, mechanical: this is not seduction after all. first i take off my floral-print dress, then i kick off my sandals; next i wiggle out of my panties (more catcalls, whistling, panting), i take off my breasts one by one (the crowd goes mad) and with a little twirl and a shy glance over my shoulder, i drop my nice piece of ass. then i walk away with what is left of me; i walk on without turning back.

e/ou:

so, i turn around, stone-faced, take out my gun and shoot the f***kers - "a girl needs a gun these days on account of those rattlesnakes"... but what to do with the bodies: this is not trophy hunting after all. as i take a few steps back, still clutching my gun, i notice that one of them is moving. "nice piece..." he croaks. but i walk away with the dead quiet (breasts bouncing, eyes on the birds in the trees); i walk on without turning back.

Convidam-se outros/as a escreverem mais alternativas!

quinta-feira, maio 24

Boum, boum!

Este assunto já cheira a mofo – para não nomear outros odores bem piores – mas o cusquices não pode deixar de o comentar. Fala-se do anúncio (seja na TV, seja nos outdoors) da TvCabo. O famoso trim, trim.

Há seres que não compreendem porque nos sentimos tão irritadas com as meninas (que até são sossegadinhas e com poucas carnes à mostra) do tal anúncio. Mais, ainda querem comparar com o facto de não nos incomodarmos de ver a Vanessa Fernandes “entrar-nos pela casa adentro” quase nua.

A estupidez da pergunta e da comparação são bem visíveis. Tão gritantes que não mereceriam uma resposta. Mas o meu lado pedagógico (isto soou pedante?) diz-me para lhes dar uma chance. Ei-la, portanto.


Não é o facto de as raparigas serem bonitas e a Vanessa Fernandes ficar a dever um bocadinho nesse campo que nos irrita. Lamento desiludir, mas não é ciúme (daquele barrigudo de meia idade) nem inveja (da beleza ou juventude das meninas – até é um bocado pedófilo, o anúncio). Simplesmente, as raparigas aparecem submissas; submetidas aos encantos de um “parolo” qualquer. Aparecem como enfeite do anúncio. Estão lá para “embelezar” o dito. E nós não gostamos que as mulheres sejam representadas dessa forma. Estamos fartas de ser o “belo sexo”. O artigo decorativo. A serva das vontades e desejos masculinos.


Para além disso, a escolha de uma publicidade desse tipo (a apelar à libido masculina) deixa de fora, mais uma vez, as mulheres (hetero?) como consumidoras. Acham mesmo que o anúncio se destina a mulheres?


Quanto à Vanessa Fernandes, há motivos de orgulho. Há todo um trabalho meritório à volta do seu fato minimalista (já imaginaram o que seria ter de correr, pedalar com um fato de treino normal? – nem acredito que tenho mesmo de dizer isto).

Mas pior que o trim, trim da TV, é o mesmo anúncio em cartazes espalhados pelas cidades. Estão as três deitadinhas, com olhar lascivo e cobertas por um lençol vermelho, onde se pode ler “Chamadas Ilimitadas”. Quer-me parecer que o que as três belezas (contra quem nada tenho, a não ser como “anunciantes”, até porque não conheço) estão a oferecer são outros serviços ilimitados… E lá estamos nós outra vez com a “mulher-objecto”, “mulher-mostruário”, “mulher-disponível-para-as-vontades-do-seu-amo”. Haja paciência!

Tenho pena que o sexo continue a ser a estratégia que grande parte dos/das publicitários/as use. Estratégia primitiva. Mas parece que parte do público-alvo também o é. Por isso, e se porque há estupidez suficiente para se colocar uma pergunta deste tipo, não é de estranhar que esse tenha de ser o recurso.

E por favor, pior de que ouvir um homem a perguntar “porquê a irritação?” é ouvir mulheres responderem que é ciúme. Se assim o é, que falem por si. Outro estereótipo que não me faz falta nenhuma é o da mulher-contra-mulher e da tonta insegura que daria tudo por um corpo que não fosse o seu.

E agora desculpem lá, mas o telefone está a tocar e tenho três bonzões à minha disposição!

quarta-feira, maio 9

Lá em casa, quem veste as calças sou eu

Mesmo dito por uma mulher esta expressão é de um tremendo machismo. Olha queres tu ver que para "mandar" tenho de ter, pelo menos, um símbolo de masculinidade? Ele é as calças para simbolizar o poder; ele é "mulher de tomates" para as corajosas; ele é "gaja de pêlo na venta" só porque não diz amén a tudo...

Eu cá disp(ens)o muito bem as características masculinas... e o tom aparentemente de elogio destas expressões falocêntricas.

É que lá em casa, quem veste a camisola sou eu!