Mostrar mensagens com a etiqueta Estereótipos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Estereótipos. Mostrar todas as mensagens

sábado, março 14

Sobre o feminismo-punk

... e o concerto de ontem.

A iniciativa que decorreu na noite de 13 de Março, no Bar Porto Rio, envolveu a música, o movimento e bandas punk. Para dizer “Eu Não Sou Cúmplice” actuaram, num concerto de estreia, a banda “Frágil & The Alcoholic Friends” e, a abrir a noite, a banda liderada pela Speedy, os “Cabeça de Martelo”.

À volta da iniciativa criou-se alguma curiosidade e as questões das motivações da associação entre punk e feminismo não tardaram. Mas se pensarmos em ambos os movimentos, não será difícil perceber a sua associação. O punk é, na sua génese e na sua história, um acto de resistência, uma forma de luta contra o capitalismo selvagem, contra as desigualdades sociais, contra todas as formas de opressão. Se o objectivo do punk é uma sociedade mais justa e livre, isso não é alcançável se metade dessa sociedade – as mulheres – não o for, ou seja, se continuarem a ser tratadas desigualmente só porque são mulheres.

Mas este não é único ponto de união entre o punk e os feminismos. O punk é considerado, não raras vezes, música maldita – um conjunto de berros e ruídos face à melodia aceitável. Ora, as mulheres estão para o sistema de género como o punk está para a música. As mulheres que não se adaptam ao modelo hegemónico do ser (mulher-mãe, branca, de classe média e heterossexual) são tidas como o barulho, o ruído do sistema melodioso cujo som é necessário silenciar. É (também) por isto que o movimento punk e os feminismos têm tanto de comum, embora as suas acções tenham estado apartadas.

Apesar da existência de diversas bandas punk de mulheres (como são exemplo o movimento das riot grrrls), as bandas masculinas, aparentemente, nunca tiveram muito em conta a opressão das mulheres. Mas a realidade é que as bandas feministas lideradas por homens existem e é necessário que estas tenham voz pública e que possam usar a sua música em defesa da igualdade. É neste sentido que surge a actuação de “Frágil & The Alcoholic Friends” que dedicou a sua estreia, em concerto, à campanha da UMAR. Que esta seja a primeira de outras iniciativas conjuntas porque com a música, com o punk, nós resistimos e nos libertamos!

quarta-feira, maio 21

O estacionamento exclusivo para mulheres...


E nas dos homens temos esta gentiliza:




Comentários à notícia:

Condenação certa pelo motivo errado... 2008-05-21 / 12:32 por: Atento!
O motivo é errado porque o problema não é o esterótipo das mulheres conduzirem mal, até porque nada indiciava tal afirmação.O motivo certo, aliás reconhecido pelo proprietário do Centro Comercial, é que a gentileza com as senhoras é descriminatória para o género masculino.Só uma mente tortuosa poderia afirmar que a atitude é descriminatória para as mulheres, pois elas teriam o estacionamento facilitado em relação aos homens.

Igualdade? Sim, mas não esquecendo a Verdade! 2008-05-21 / 12:14 por: Josue
Eu acho que TODOS os centros comerciais deviam ter lugares especificos para Deficientes, Idosos, e Mulheres. Não se trata de uma questão de igualdade, trata-se sim de uma questão de Verdade. Quem conduz todos os dias sabe e vê que as Mulheres têm menos capacidade de conduzir e estacionar. Existem excepções como em tudo, também existem homens que conduzem muito mal. E não me venham com as historias das "estatisticas" que dizem que as mulheres têm menos acidentes graves... é um facto que têm menos acidentes graves, mas têm mais acidentes, os chamados "toques" que empatam o transito. Ao menos os Homens quando batem, batem a serio.Desta forma penso que elas deviam de facto ter lugares especificos, bem largos e pertinho das portas. Eu não me importo de andar mais, desde que chegue ao meu carro e não tenha riscos ou amolgadelas pela falta de cuidado que estas têm com o abrir de portas e a estacionar. Sim porque sabemos que os Homens por norma "amam" o seu carro, as mulheres olham para o seu veiculo como "um veiculo libertino de igualdade" .

quarta-feira, fevereiro 20

sábado, dezembro 15

Homens recusam admitir que menores salários se devam a preconceitos

Um quarto das mulheres portuguesas diz-se discriminada em matéria salarial. A conclusão faz parte de um inquérito baseado numa amostra de 1020 entrevistas, coordenado por Glória Rebelo, do centro de estudo Dinamia, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), encomendado pela União Geral dos Trabalhadores (UGT).

Segundo os números apresentados (...) 24,1% das mulheres sentem-se discriminadas nos salários. Do lado dos homens, apenas 8,3% se queixam de ser prejudicados neste domínio.

Um dos aspectos mais curiosos do estudo prende-se com a forma como mulheres e homens justificam a discriminação salarial daquelas. É ponto assente que elas ganham menos e têm menos peso nas posições de chefia - "58% dos inquiridos reconhecem que os cargos directivos são sobretudo ocupados por homens". Porém, enquanto a maioria das mulheres atribui o facto aos "estereótipos associados às mulheres", os homens encontram explicações nas "insuficiências de qualificação",

[quantas mulheres há mesmo com o (e no) ensino superior?]

"menor capacidade para o trabalho" ou ainda "menor disponibilidade das mulheres para o trabalho".

[Quantas mulheres há mesmo que trabalham, em média, mais duas horas diárias do que os seus companheiros?]

Enquanto 69,4% das mulheres atribuem a dificuldade no acesso ao emprego a "resistências relacionadas com estereótipos de género", esta percentagem desce para zero entre os homens.

"A reacção dos homens só confirma que existe estereotipia, que se caracteriza precisamente pela falta de consciência das discriminações", disse ao DN Glória Rebelo.
(...)

Manuel Esteves

terça-feira, dezembro 11

Film or someting like it

Venha um filme de domingo para nos distrairmos das consequências das distracções do dia anterior. Comando na mão, cobertor sobre as pernas e ressaca sob vigilância: a missão é vegetar.

Uma vida em Sete Dias, com a Angelina Jolie, parece cumprir a função. Arrisca-se.

O filme mostra a historinha de uma mulher com passado de patinho feio (typical!) que se torna numa deslumbrante repórter, famosa, rica e noiva de uma cobiçada figura do baseball. Numa reportagem, entrevista um “profeta” que lhe anuncia a morte dali a sete dias.

E, a partir daí, não são precisos mais de sete segundos para querer que ela morra mesmo.

7. Apercebe-se do vazio da sua vida
6. Mulher bem sucedida é sempre infeliz
5. Que o noivo não está verdadeiramente apaixonado por ela (como o seu companheiro de trabalho e de outros lençóis)
4. Mulher bem sucedida é sempre infeliz;
3. Ao conseguir o desejado lugar na tv nacional prefere ficar na terrinha com o seu amorzinho - o totó sentimentalóide.
2. Mulher pouco ambiciosa e que troca o trabalho pelo amorzinho é sempre feliz!

1. Por que raio tem de ser sempre a mesma moral?

Temos de avisar os senhores que o objectivo é vegetar enquanto vemos o filme. Não enquanto o fazem. 0

segunda-feira, agosto 20

sexta-feira, julho 6

Mulheres não são mais faladoras do que os homens

O Mito urbano da “mulher faladora” e séries como O Sexo e a Cidade ou Donas de Casa Desesperadas são unha com carne. Mas será que a realidade é igual à ficção?


Parece que não, segundo um novo estudo coordenado por Matthias Mehl, professor de Psicologia na Universidade norte-americana do Arizona.

Este lugar comum tem sido alimentado por jornais e pesquisas supostamente científicas há mais de uma década. Mesmo quando a autora mais citada sobre o assunto, Louann Brizendine, já confessou em entrevista ao The Guardian que a sua afirmação de que as mulheres falam em média “três vezes mais do que os homens” não tem qualquer fundamento.

(…)

Agora, com o trabalho realizado pela equipa de Matthias Mehl, torna-se ainda mais fácil contestar este cliché. Ao longo de seis anos, as conversas diárias de vários alunos mexicanos e norte-americanos (no total, 400) foram gravadas, e as suas palavras contadas uma a uma. Isto envolveu a criação de um dispositivo chamado EAR (“ouvido” em inglês), acrónimo de gravador electronicamente activado, que permitia a captação das conversas.

O estudo é publicado hoje na revista Science, e prova que existem diferenças: de pessoa para pessoa e não de sexo para sexo.

Nos números apresentados pela sua equipa, as mulheres falam uma média de 16.500 palavras, contra 15.669 para os homens. Segundo Mehl, esta diferença não é significativa. “o homem mais falador chegou às 47.000 palavras, e o menos falador disse pouco mais de 500.”

Assim, a ideia de que há um reservatório de palavras ou de que haveria uma diferença nas competências de fala entre os dois sexos motivadas pela evolução está posta de parte.

“O estereótipo sobre a predisposição das mulheres para a conversa e dos homens para o silêncio não tem fundamento”, conclui. Só falta agora a versão masculina destas séries de TV. Porque os homens também falam.


Daniel Santos
in Jornal Público
Imagem: Lichtenstein

quarta-feira, junho 20

Manuela e a superfície escondida

Manuela, quando tinha treze anos e lhe cresceram as mamas, se lhe arredondaram as ancas e começou a sangrar “lá em baixo” uma vez por mês, assustou-se. (…) Tudo aquilo lhe tinha sido já apresentado como misterioso, esquisito – coisas que simultaneamente caracterizavam as mulheres como específicas face aos homens, normais, e que ao mesmo tornavam as mulheres objecto de excessiva atenção. Já intuía que iria ser sobredefinida por essas características – objecto de espanto e escrutínio, o corpo feminino era também objecto de desejo e predação. Aliás, já o era, desde que nascera: sobredefinida como do sexo feminino, antes mesmo de ser Manuela ou outra coisa qualquer. Prestava muita atenção aos seus irmãos e primos machos e achava que eles não tinham preocupações, e que ninguém se preocupava muito com eles. (…) quando faziam asneiras até lhes achavam piada, diziam asneiras sem serem reprimidos, (…) e ainda tinham liberdade para falar das raparigas como se fossem uma espécie de manada disponível para a sua caça.

Um dia sem exemplo, os pais deixaram-na sozinha em casa, mas com a incumbência de ir ao supermercado fazer umas compras. Dirigiu-se ao roupeiro do quarto dos irmãos. Por cima das calças que trazia vestidas, vestiu uma grande camisola e, por cima desta, colocou um blusão. Mas se viam as mamas. Como tinha o cabelo um pouco comprido, enrolou-o e colocou um gorro por cima. (…) Calçou uns ténis. Planeou engrossar um pouco a voz. Controlou a ondulação das ancas, enfiou as mãos nos bolsos. Saiu à rua e foi ao supermercado. Pela primeira vez em semanas, nenhum operário do prédio em construção à frente da sua casa lhe dirigiu um piropo.


Anos depois, Manuela ri-se a contar esta história. Terminou um curso universitário e tem um emprego decente. (…) Ela não quer falar de um conjunto de coisas que a deprimem: de como no emprego não consegue subir na hierarquia porque tem que conciliá-lo com a vida doméstica; de como não percebe porque tem que conciliá-lo mais com a vida doméstica do que P.(…) Não é dessas coisas que ela quer falar. Quer falar, isso sim, de como continua a achar o seu corpo uma coisa estranha. (…) O que quer dizer é que passou a vida a ouvir dizerem-lhe que o seu corpo é algo de “estranho”. O seu corpo mesmo e o seu corpo como representação. Teve sempre a sensação de que, quer fosse a mãe, quer fosse os livros que lia, quer os médicos onde ia, quer ainda as revistas femininas, a publicidade, etc., o seu corpo precisava de infinitos cuidados, especialistas, explicações, especulações: da menstruação ao útero, (…) do champô aos pensos higiénicos, da forma de cruzar as pernas à roupa, das horas de saída aos sítios da cidades, tudo, mas tudo parecia dizer ao mesmo tempo que ela era frágil e hiper-desejada – portanto, uma presa, como nos documentários da vida animal.

Tudo parecia dizer que ela era, antes de tudo o mais e mais que tudo - corpo. ao mesmo tempo tudo parecia dizer que ela era menos: menos inteligente, menos forte, menos capaz de. Estúpida, portanto inferior. Emotiva, portanto inferior. (…) Também lhe diziam, de uma forma ou outra, que era perigosa, tentadora, que tinha poderes ocultos, que era a perdição de toda a gente e mais alguma. (…) E sempre a precisar de ser explicada – por quem? Pelos homens, claro (…).

Aos poucos foi pensando sobre o assunto. Não demorou muito a perceber que até há pouco tempo havia profissões que lhes estavam vedadas. Que não teria podido votar ou ter propriedade. Que anos atrás o marido teria uma autoridade total sobre ela. E isto tudo porquê? (…) talvez por outros indícios da superfície do seu corpo, mais localizados e escondidos: (…) Na sua vagina (…) a metáfora do seu “mistério”. Para lá dela (…) o útero (…) onde podem crescer bebés – os bebés que lhe disseram ser seu destino natural desejar e ter; os bebés que até há bem pouco tempo eram do homem que fertilizasse os ovos no seu interior.


Miguel Vale de Almeida
“O Manifesto do Corpo”
In Revista Manifesto, n.º 5

imagem: Marina Abramovic

quinta-feira, maio 24

Boum, boum!

Este assunto já cheira a mofo – para não nomear outros odores bem piores – mas o cusquices não pode deixar de o comentar. Fala-se do anúncio (seja na TV, seja nos outdoors) da TvCabo. O famoso trim, trim.

Há seres que não compreendem porque nos sentimos tão irritadas com as meninas (que até são sossegadinhas e com poucas carnes à mostra) do tal anúncio. Mais, ainda querem comparar com o facto de não nos incomodarmos de ver a Vanessa Fernandes “entrar-nos pela casa adentro” quase nua.

A estupidez da pergunta e da comparação são bem visíveis. Tão gritantes que não mereceriam uma resposta. Mas o meu lado pedagógico (isto soou pedante?) diz-me para lhes dar uma chance. Ei-la, portanto.


Não é o facto de as raparigas serem bonitas e a Vanessa Fernandes ficar a dever um bocadinho nesse campo que nos irrita. Lamento desiludir, mas não é ciúme (daquele barrigudo de meia idade) nem inveja (da beleza ou juventude das meninas – até é um bocado pedófilo, o anúncio). Simplesmente, as raparigas aparecem submissas; submetidas aos encantos de um “parolo” qualquer. Aparecem como enfeite do anúncio. Estão lá para “embelezar” o dito. E nós não gostamos que as mulheres sejam representadas dessa forma. Estamos fartas de ser o “belo sexo”. O artigo decorativo. A serva das vontades e desejos masculinos.


Para além disso, a escolha de uma publicidade desse tipo (a apelar à libido masculina) deixa de fora, mais uma vez, as mulheres (hetero?) como consumidoras. Acham mesmo que o anúncio se destina a mulheres?


Quanto à Vanessa Fernandes, há motivos de orgulho. Há todo um trabalho meritório à volta do seu fato minimalista (já imaginaram o que seria ter de correr, pedalar com um fato de treino normal? – nem acredito que tenho mesmo de dizer isto).

Mas pior que o trim, trim da TV, é o mesmo anúncio em cartazes espalhados pelas cidades. Estão as três deitadinhas, com olhar lascivo e cobertas por um lençol vermelho, onde se pode ler “Chamadas Ilimitadas”. Quer-me parecer que o que as três belezas (contra quem nada tenho, a não ser como “anunciantes”, até porque não conheço) estão a oferecer são outros serviços ilimitados… E lá estamos nós outra vez com a “mulher-objecto”, “mulher-mostruário”, “mulher-disponível-para-as-vontades-do-seu-amo”. Haja paciência!

Tenho pena que o sexo continue a ser a estratégia que grande parte dos/das publicitários/as use. Estratégia primitiva. Mas parece que parte do público-alvo também o é. Por isso, e se porque há estupidez suficiente para se colocar uma pergunta deste tipo, não é de estranhar que esse tenha de ser o recurso.

E por favor, pior de que ouvir um homem a perguntar “porquê a irritação?” é ouvir mulheres responderem que é ciúme. Se assim o é, que falem por si. Outro estereótipo que não me faz falta nenhuma é o da mulher-contra-mulher e da tonta insegura que daria tudo por um corpo que não fosse o seu.

E agora desculpem lá, mas o telefone está a tocar e tenho três bonzões à minha disposição!