A propósito deste post da Alien**
"A publicidade alimenta-se de estereótipos. (…) A publicidade pretende chegar ao maior número possível de gente e tem de utilizar imagens maioritárias, que são as mais retrógradas e resistentes à mudança. Hoje, a imagem que a publicidade dá da mulher não satisfaz nenhuma mulher. (…)
Talvez o problema não seja o facto de a publicidade fazer uso do estereótipo: é que ela fabrica-o, transforma qualquer imagem em estereótipo, de tanto a manusear. O seu carácter e a sua finalidade [persuasiva] obrigam-na a exagerar alguns aspectos em prejuízo de outros.
(…) De tudo o que foi dito não deve deduzir-se que caberia aos profissionais da publicidade ver que o assunto de uma publicidade ilícita ou de qualidade duvidosa [somente a eles] lhes diz respeito. (…)
Vivemos, sem dúvida, numa economia de mercado que não se desenvolve nem progride sem o marketing adequado. Mas, já que há uma certa mercantilização, pelo menos, é inevitável, em vez de nos arrepelarmos e alarmarmos por tudo e por nada, talvez fosse mais eficaz aprendermos a tirar partido das vantagens da publicidade para vender o que vale a pena vender. Vender cultura ou vender valores.
(…) Não só os publicitários, também os poderes públicos e a chamada sociedade civil devem estar alerta e adquirir visão crítica necessária para não se deixarem levar pela inércia publicitária.
(…) a mulher, como publicitária, como política ou como consumista, pode dizer muita coisa e coisas interessantes. Não só denunciando a publicidade machista, que isso já se faz e já temos os publicitários bastante mentalizados a esse respeito*. Sobretudo, contribuindo para que o interesse comum não se identifique automaticamente com o economicamente rentável."
Talvez o problema não seja o facto de a publicidade fazer uso do estereótipo: é que ela fabrica-o, transforma qualquer imagem em estereótipo, de tanto a manusear. O seu carácter e a sua finalidade [persuasiva] obrigam-na a exagerar alguns aspectos em prejuízo de outros.
(…) De tudo o que foi dito não deve deduzir-se que caberia aos profissionais da publicidade ver que o assunto de uma publicidade ilícita ou de qualidade duvidosa [somente a eles] lhes diz respeito. (…)
Vivemos, sem dúvida, numa economia de mercado que não se desenvolve nem progride sem o marketing adequado. Mas, já que há uma certa mercantilização, pelo menos, é inevitável, em vez de nos arrepelarmos e alarmarmos por tudo e por nada, talvez fosse mais eficaz aprendermos a tirar partido das vantagens da publicidade para vender o que vale a pena vender. Vender cultura ou vender valores.
(…) Não só os publicitários, também os poderes públicos e a chamada sociedade civil devem estar alerta e adquirir visão crítica necessária para não se deixarem levar pela inércia publicitária.
(…) a mulher, como publicitária, como política ou como consumista, pode dizer muita coisa e coisas interessantes. Não só denunciando a publicidade machista, que isso já se faz e já temos os publicitários bastante mentalizados a esse respeito*. Sobretudo, contribuindo para que o interesse comum não se identifique automaticamente com o economicamente rentável."
Victoria Camps
In O Século das Mulheres
E vénia lhe seja feita: existem, realmente – e conseguimos lembrar-nos deles- excelentes anúncios institucionais que conseguem efeitos a curto prazo. E não deixa de ser uma venda.
* a autora refere-se à realidade espanhola. Será também a portuguesa?
**ver o post aqui
4 comentários:
Se for como a nossa, esta discussão ainda vai ser longa, cuscavel. ;)
Cuscavel, vou ser um pouco repetitiva :D, pois muito do que vou escrever aqui já o disse no meu blog a ti.
Antes de chegar ao papel da mulher na publicidade, deixa-me que descreva o papel da publicidade na sociedade. As pessoas não o compreendem porque não trabalham no interior como é o meu caso. Como criativa, vejo as coisas de outra forma. A publicidade por muito que queira não é uma ferramente para mudar a sociedade, a publicidade anda atrás da sociedade. Faz o que a sociedade lhe permite fazer. As mentalidades das pessoas evoluem permitindo à publicidade ser mais arrojada. Existem hoje anúncios que nunca passariam na TV há 10 anos atrás porque as pessoas não estavam preparadas para isso.
E tu perguntas, como o fizeste: mas a publicidade não pode ajudar a deitar abaixo essas barreiras?
Sim, pode!Mas e os custos?
São muitos. Se eu decidir criar um anúncio que acho que vai dar muito que falar, eu sei que vou correr muitos riscos. O meu emprego é um deles. Vou ter de convencer o meu Director criativo a aprovar o anúncio e este também corre o risco de perder o seu emprego se a coisa der para o torto, depois temos de convencer os accounts que sãos as pessoas que vão convencer o cliente de que o meu anúncio é uma MARAVILHA. O cliente, só quer é LUCRO, ver as suas vendas aumentarem e não quer chatisses. Se ele concordar, o anúncio vai para o ar, se o anúncio der barraca...a agência está em apuros e eu estou na rua. Entendes?
E isto é uma explicação simplificada.
Isto para dizer, que a publicidade se fosse uma ferramenta para mudar a sociedade, deixaria de ser uma ferramente para ajudar a vender um produto.
Quanto ao papel da mulher na publicidade.
"Hoje, a imagem que a publicidade dá da mulher não satisfaz nenhuma mulher. (…)
Não concordo! As coisas mudaram muito. Os criativos de hoje, não são burros e não encaram as mulheres como os criativos da velha escola encaravam.
Se me vierem falar dos anúncios a perfumes, eu rio...porque muitos deles VALORIZAM as mulheres. E outros os homens.
Quanto aos restantes, basta olhar com atenção para perceber o passo de gigante que foi dado nestes últimos 10 anos.
A exploração do corpo da mulher já não resulta porque se torna em algo " MUITO VISTO" como nós lhe chamamos.
A publicidade espanhola, não me é familiar, por uma simples razão. Eu geralmente estou apar daqueles países que fazem aquela publicidade que adoro. Aquela que ganha prémios...e espanha não ganha muitos. Nós até já os batemos nesse capítulo...nem todos os anos andamos inspirados ;)
Isto para dizer que se estivessemos a falar da publicidade Inglesa, Holandesa...etc saberia melhor o que a senhora quer dizer.
Em portugal o que te posso dizer é que um criativo que recorra a uma " gaja boa" para colocar num anúncio. É um mau criativo. É porque não teve nenhuma ideia para o anúncio e foi pelo caminho mais fácil...se o Director Criativo aprova uma campanha dessas...então só te posso dizer que a agencia é uma merda e aí não há nada a fazer.
Mas as coisas mudaram...
Um beijo e este testamento acabou UFA!!!!!
Mé, alongamo-nos mas nunca (o/nos) desgastamos! :)
Alien,
Já sabes que os teus testamentos são sempre muito bem-vindos ;)
Aquilo que descreves é-me familiar. Nunca trabalhei como criativa mas já trabalhei com criativos, como cliente - ainda que se tratasse de estratégias de comunicação mais básicas como escolha de economatos, por exemplo.
Também por isso, é impossível não compreender o lado dos criativos: fugir à norma acarreta sempre consequências penosas.
Mas se não podemos, para já, arriscarmo-nos a fazer algo determinante, pelo menos, partilhemos experiências e visões. É que me parece já uma forma de fuga…
E se assim for, que se prevarique, então! :)
Bjs e obrigada pelo testemunho. :)
Cuscavel não me agradeças, adoro a blogosfera por podermos partilhar ideias e debater temas. E gosto de saber sempre o que outros andam a escrever por aí ;):D Não gosto de me limitar ao meu Blog.
bjs
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