Porque preferem, as mulheres, casas a apartamentos?
É Verão. O calor é tanto que nem energia tem para se queixar de que o calor é tanto. Arrasta-se até casa para se abrigar das cuspidelas de calor que invadem a cidade sem ar condicionado. Afunda-se no sofá. Ao seu lado, o corpo do outro – que é também o seu. Escapa, por momentos, ao calor. Mas a temperatura dos corpos começa a subir, acompanhando o calor barricado do outro lado da janela. Entre si e o seu outro, talvez demasiada roupa. Arranca-as convencida da fonte do calor. Mas continua o braço-de-ferro. As roupas não eram o porque. Continua a procurar a fonte do calor. As mãos auxiliam na busca, tacteando, errantes, o corpo contíguo. O calor aumenta. A respiração apressa-se a acompanhar o tactear ansioso das mãos. Os barulhos da televisão são acotovelados pelo ofegante silêncio. As gotas de suor evadem-se. Vão-se multiplicando na divisão do toque. E vão perdendo a morada de um corpo só. De repente, o sofá é já pequeno. A cama ampara o seu amparar-se no outro. A terra começa a tremer a compasso. Cadente e ardente. A terra treme a compasso. Num ímpeto – como um imprevisível previsto - o mundo explode concentrado num gemido. Num ímpeto, o mundo concentrado num gemido. Num ímpeto, o gemido concentrado num grito. O grito da vizinha que, da sua varanda, arremessa: “Gritem mais baixo!”. De repente, a gargalhada intrigada.
E pensa: “como ousa alguém intrometer-se enquanto nos intrometemos?” Mas não se ficou por aqui. Saída de casa, encontra um bilhete à porta do apartamento, dizendo: “Agradecemos que façam menos barulho quando estiverem a fazer determinadas actividades”.
É Verão. O calor é tanto que nem energia tem para se queixar da cobardia de um bilhete anónimo, abandonado à entrada do Olimpo. Arrasta o assunto para fora de casa. E mastiga-o até à exaustão. É Verão, foi importunada e está exausta. Não sabe como retaliar.
E vocês? O que fariam se alguém vos tentasse intrometer o Inverno pela casa adentro?
E pensa: “como ousa alguém intrometer-se enquanto nos intrometemos?” Mas não se ficou por aqui. Saída de casa, encontra um bilhete à porta do apartamento, dizendo: “Agradecemos que façam menos barulho quando estiverem a fazer determinadas actividades”.
É Verão. O calor é tanto que nem energia tem para se queixar da cobardia de um bilhete anónimo, abandonado à entrada do Olimpo. Arrasta o assunto para fora de casa. E mastiga-o até à exaustão. É Verão, foi importunada e está exausta. Não sabe como retaliar.
E vocês? O que fariam se alguém vos tentasse intrometer o Inverno pela casa adentro?
7 comentários:
Minha cara, antes demais deliciaste-me com este texto, como escreves!!!
Confundiste-me! Verão, inverno... Será que foi um dia de calor no Inverno?! Penso que sim :)
O calor de que tu falas, e se eu percebi, é muito bom e o inverno quando entra casa adentro já não faz mal ehehe, o verão foi sempre melhor!!
Beijinhos grandes!
p.s.- precisamos de cuscar e falar mal dos outros ehehehe
O que eu me ri a ler isto!!! eheheh. Que tal um bilhetinho "esquecido" dizendo: "Cara vizinha, que tal arranjar vida própria para nao ter de atrapalhar a minha quando as hormonas dao o seu melhor... ou entao arranje um namorado/amante/homem com pilhas... qq coisa... "... lol. Jokinhas!!
5 minutos depois vingava-me! Ligava o amplificador, ligava o micofone e era o fim do mundo até a barraca abanar!
eheheh!! Saudações infernais!
Lamentava-me por ela :)
Fartei-me de rir :)
Há gente muito invejosa! ;)
O Verão dentro de casa, no frio do Inverno... Nada melhor! Claro que com uma excelente companhia.
Se não for excelente, ora prontos :), que seja boa!
eu cá gritava mais alto...lol...e deixava um bilhetinho (mais tipo cartaz) na portaria com a palavra :INVEJOSOS, escrita bem grande!!!
Depende da vizinha
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