Hoje Recebi Flores!
Hoje Recebi Flores!
"Não é o meu aniversário ou nenhum outro dia especial;
tivemos a nossa primeira discussão ontem à noite e ele disse-me muitas coisas cruéis que me ofenderam de verdade.
Mas sei que está arrependido e não as disse a sério, porque ele me enviou flores hoje.
Não é o nosso aniversário ou nenhum outro dia especial.
Ontem ele atirou-me contra a parede e começou a asfixiar-me. Parecia um pesadelo, mas dos pesadelos acordamos e sabemos que não é real.
Hoje acordei cheia de dores e com golpes em todos lados.
Mas eu sei que está arrependido porque ele me enviou flores hoje.
E não é São Valentim ou nenhum outro dia especial.
Ontem à noite bateu-me e ameaçou matar-me.
Nem a maquiagem ou as mangas compridas poderiam ocultar os cortes e golpes que me causou desta vez. Não pude ir ao emprego hoje porque não queria que se apercebessem.
Mas eu sei que está arrependido porque ele me enviou flores hoje.
E não era dia da mãe ou nenhum outro dia.
Ontem à noite ele voltou a bater-me, mas desta vez foi muito pior. Se conseguir deixá-lo, o que é vou fazer? Como poderia eu, sozinha, manter os meus filhos? O que acontecerá se faltar o dinheiro?
Tenho tanto medo dele!
Mas dependo tanto dele que tenho medo de o deixar.
Mas eu sei que está arrependido, porque ele me enviou flores hoje.
Hoje é um dia muito especial: É o dia do meu funeral.
Ontem finalmente conseguiu matar-me.
Bateu-me até eu morrer.
Se ao menos tivesse tido a coragem e a força para o deixar... Se tivesse pedido ajuda profissional...
Hoje não teria recebido flores!
Morrem 5 Mulheres por mês em Portugal vítimas de maus tratos!
Mulheres lembrem-se, é vital ultrapassar o sentimento de culpa e DENUNCIAR."
1 comentário:
i think this text articulates the pain, difficulty and injustice of a violent relationship - and that it is already a big step that women's experiences of this intimate brutality can be voiced, hopefully in a way that does not leave us unmoved. i also think that it's time we interrogate the discourses(beliefs, talk, mis/understandings) that perpetuate gender violence. and to do so without falling into the trap of blame (e.g. to ask questions like 'why do women stay' or why do men do this' not to accuse, but to open up space where what is silenced/muted/assumed is uncovered, understood and put under review).
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