quarta-feira, maio 30

Histórias para não adormecer


Mais uma História da Gata Borralheira


Era uma vez o Príncipe que tinha dormido com a Gata Borralheira. Durante o baile no palácio apeteceu a ambos deixar de dançar e ir para a cama um com o outro. E foram. Mas, à meia-noite, a Gata Borralheira saiu a correr da cama do Príncipe e esqueceu-se do soutien atrás de si.

O Príncipe não gostava do seu antepassado que tinha obrigado todas as mulheres do principado a descalçar o pé direito ou o esquerdo. O Príncipe não se lembrava ou a história era omissa quanto a ser o pé esquerdo ou o pé direito. Achava uma atitude grosseira, arrogante, pornográfica, de mau gosto.

Então o Príncipe para encontrar a gata borralheira não obrigou todas as mulheres do principado a despirem-se diante dele e a calçar o soutien. Meteu o soutien na gaveta das recordações e decidiu fazer amor com todas, uma por uma, velhas e novas, feias e bonitas, aleijadas e não aleijadas. E foi fazendo.

Quando fez amor com a madrasta e com as duas filhas da madrasta, sentiu-se mal. Jurou para nunca mais. Porque as três eram pelintras, chupistas, feias e fidalgas. E isso tudo traduzia-se no calculismo e no fingimento com que faziam amor. O Príncipe chegou a pensar que em vez de pénis tinha um godemichet implantado no baixo ventre de tal modo a madrasta e as três filhas da madrasta o usaram e se serviram dele. Agoniado depois de fazer amor com as três, foi à casa de banho vomitar.

Na casa de banho vomitou. E encontrou a Gata Borralheira a limpar a retrete. Como o Príncipe não foi a tempo de vomitar na retrete, vomitou no chão. A Gata Borralheira limpou o vomitado sem enjoos. Porque o Príncipe e a Gata Borralheira tinham-se reconhecido mutuamente imediatamente. Não foi preciso fazerem amor porque a cumplicidade que os unia era evidente para ambos aos olhos e ao sorriso de ambos.

O Príncipe levou a Gata Borralheira imediatamente para o palácio montados ambos num mesmo cavalo branco. E a madrasta e as duas irmãs suas filhas e irmãs de Gata Borralheira ficaram por entre os vidros e as cortinas danadas e furiosas e sem perceberem nada porque eram as três tão burras que nunca percebiam nada de nada.

O soutien voltou a ser usado algumas vezes pela Gata Borralheira porque a Gata Borralheira era poupada, percebia muito de afrodisíacos e era tão fetichista como o Príncipe.

Adília Lopes
“A Bela Acordada”
in Obra, Edições Mariposa Azul

imagem: Ray Caesar

5 comentários:

cuscólica anónima disse...

Oh, eu ainda acredito no sapato e no amor á primeira vista!
Será que pertenço a este século?!

Lol :)

Woman Once a Bird disse...

Eu por mim não acredito em limpar o vómito de ninguém. ;)

Berta Cem Mil disse...

A Adília no seu melhor... um humor certeiro e uma ironia como ninguém tem, à mistura com uma certa inocência de menina... Não é à toa que reinventa contos de fadas...

rps disse...

Sempre que me "cai" algo de Adília Lopes, acho alguma piada...

jg disse...

Sexo, Príncipes e vómitos?!!!
Dasssss...