Mulheres contra mulheres? *
Eles preferem trabalhar com elas porque elas não levantam ondas.
Elas não gostam de trabalhar com elas para não terem sombra.
Eles preferem conviver com eles porque são da malta.
Elas não podem passar sem outras elas; de quem falar mal?
As relações entre eles estabelecem-se naturalmente.
Entre elas as relações são mais difíceis, sendo, frequentemente, caracterizadas como triviais, pouco sinceras, competitivas e com doses de malvadez.
Elas não gostam de trabalhar com elas para não terem sombra.
Eles preferem conviver com eles porque são da malta.
Elas não podem passar sem outras elas; de quem falar mal?
As relações entre eles estabelecem-se naturalmente.
Entre elas as relações são mais difíceis, sendo, frequentemente, caracterizadas como triviais, pouco sinceras, competitivas e com doses de malvadez.
Quais os culpados de tão celebrado estereótipo?
Dividir para Reinar
No que ao papel do homem diz respeito, digamos apenas que este seguiu com afinco – e êxito - a máxima “dividir para reinar”. É que para manter o poder, a ordem masculina precisava impedir que as mulheres se reunissem e formassem alianças; já que quando as relações femininas não são sólidas, as mulheres ficam mais expostas à exploração do homem.
E dividir não foi difícil: bastou encerrá-las na esfera doméstica. Mergulhadas nos círculos repetitivos do quotidiano, as suas conversas giravam em torno dos filhos, da casa, do marido… não tendo como se desenvolver socialmente.
Uma outra chave para manter as mulheres divididas foi levá-las a interiorizar que quando uma mulher conquistava um lugar no mundo (que vinha do reconhecimento e aceitação por parte do homem), outra era excluída. E se só havia espaço para uma…. já se sabe “contra” quem tinham de lutar. Para além disso - há estudos que o indicam – os oprimidos são especialistas em hostilidades para com pessoas vulneráveis como elas. Revoltadas mas impotentes face aos opressores, voltam-se para os seus semelhantes oprimidos. Como se fosse a única catarse possível.
Mas não nos detenhamos no papel do homem.
Reino de Divididas
Se aquilo que até agora foi dito se mantém nos dias de hoje não será somente responsável o homem. O patriarcado** não teria podido manter-se ao longo de milhares de anos sem a cumplicidade das próprias mulheres. É, por isso, importante tomarmos consciência do papel que desempenhamos na manutenção da dominação masculina.
A verdade é que persistimos no erro de considerar que o valor de uma mulher implica a desvalorização de outra mulher. Quando sentimos que uma mulher é aceite e valorizada por um homem, tendemos a enumerar-lhe uma série de defeitos.
Quantas de nós se sentiram ameaçadas quando percebíamos que o grupo de amigos se começava a alargar a outras mulheres? Daí as críticas mordazes às novas figuras femininas que começam a frequentar o NOSSO café.
Quantas de nós caímos na tentação de dizer, perante uma mulher bonita, que era fútil porque cuidava da aparência? Ou que é bonita somente por fora?
Unir para Reinar
Por isso, a verdadeira alavanca da mudança somos nós mesmas, mesmo por quem diz não sentir a descriminação (eu também o dizia há bem pouco tempo), porque basta pensar como seria ser homem por um dia para descobrir as diferenças.
E isto é igualmente válido para as feministas, já que acabam por ser também misóginas (hostilidade face à mulher) para com as que cedem à dominação masculina…
Não reforcemos a inferioridade, que nos atribuíram, com as nossas inseguranças. Deixemos as comparações, as depreciações, a criação de incertezas nas outras mulheres, as avaliações constantes;
Não tenhamos medo de dizer o quanto aquela mulher é inteligente, honesta, divertida, bonita, leal… Saibamos admirar uma mulher!
Saibamos ser essa mulher.
Sem REIno
Saibamos não temer a luminosidade das rainhas singulares para deixarmos, enfim, a sombra do REInado.
Saibamos ser a singular que abdica do choque com outras singulares em proveito de um plural.
Saberemos?
* Título surripiado ao livro de Carmen Alborch
** Patriarcado: forma de organização política, religiosa, económica e social baseada na autoridade e liderança homem; sistema em que predomina o domínio do homem sobre a mulher
11 comentários:
É verdade que não somos tão unidas!
É verdade que necessitamos rebaixar a próxima para nos sentirmos melhor!
É verdade que por mais perfeita que uma mulher seja, arranjemos sp uma maneira de lhe arranjar defeitos para nos convencermos e convencer os outros de que afinal ela não é melhor que nós!
E é verdade que se queremos igualdade, se queremos maior respeito do sexo masculino, temos que enaltecer todas as nossas qualidades e não abalroarmo-nos para sermos as melhores. Basta sermos boas e desejar que todas sejamos!
Tb eu me começo a esticar...LOL!!
Adorei o tema!!
Beijokas
Gostei uma vez mais do que escreves e gostaria, se me permites, de sublinhar algo que aqui está implícito. Este “nós”, que concordo que seja uma meta a atingir perante a desunião que nos está imposta, não tem apenas a ver com camaradagem, mas deve ser a ponte para algo mais essencial. Quem somos - nós que aspiramos a este “nós”? Nós não somos apenas “as mulheres”, mas a mulher da periferia nas suas inacessibilidades reais e virtuais; somos a jovem confinada às paredes do lar, por ser jovem e por ser mulher; somos a imigrante de leste, licenciada e mulher-a-dias; somos a mulher africana, vítima voluntária de excisão; somos a mulher assediada sexualmente ou descriminada laboralmente… Somos até o homem que subjuga, porque já a escritora dizia (acerca da exclusão das mulheres pelo triunfo do patriarcado) que se é mau ficar condenada ao lado de fora, muito pior é estar preso do lado de dentro. Tudo isto é terreno de combate de um feminismo consequente, que pede que “nós” o assumamos, e é por ele ser justo que “nós” nos devemos atrever essa aliança, que séculos de cultura nos negaram.
Cruzes Credo Canhoto !
Não sei para quê essas guerras ou melhor, comparações !
Se nós não passamos sem eles e eles sem nós !
Jokas
Um bom post!Realmente vcs mulheres são muito complicadas, trabalhar no meio de vcs, é horrivel, lol, a competição entre vcs é deveras...interessante?!
Enfim..mulheres :D
Cuskiss, ainda bem que gostaste. Agora é só arregaçar as mangas!
Safo, como sempre trazendo novas (e interessantes) visões para questões que se pretendem, também, renovadas.
Companheira de cusquices, não tenho a certeza de ter percebido o teu comentário. As guerras e comparações que falas são entre as mulheres? Então, digo eu - em todo o post- "Cruzes, Credo, Canhoto". :)
Se não falas dessas, então fico na dúvida entre ter sido eu a não compreender o teu comentário ou tu a não compreenderes o que pretendia dizer no post...
Natarajboy, não estás a ajudar! ;)
Gosto vocês assim meiguinhas e imprevisíveis q.b.;)
Gajas unidas, jamais serão vencidas! :)
Bom Natal meninas!
***
Esse é o espírito, tixa. :)
... e bom natal para todos (todas!)
Ó gajas, nem hoje, dia da mulher, vocês ressucitam este blog? Atão porquê?...
Estrela, estás desnorteada! ;) Estás a entrar no blog sempre com o link deste post. Experimenta só www.cuscasdasgajas.blogspot.com
Mas gostei do interesse! :)
Ahhhhh...... distracção. Bem, o costume... Mil perdones. Vou actualizar.
Enviar um comentário